Economia informal deve voltar a crescer no País

Em 2014, informalidade movimentou 16,1% do PIB brasileiro e, segundo especialista, tendência é subir, por conta da atividade econômica em queda

Depois de dez anos de quedas consecutivas, a participação da economia informal na soma de todas as riquezas produzidas no País, o Produto Interno Bruto (PIB), deve voltar a crescer nos próximos dois anos por conta do forte ajuste na atividade econômica, que já tem reflexos no aumento do desemprego.

 No ano passado, a economia informal movimentou R$ 826 bilhões, ou 16,1% do PIB, uma fatia 0,2 ponto porcentual menor do que em 2013. Desde 2003 a informalidade da economia está em queda livre, segundo o Indicador de Economia Subterrânea (IES) calculado pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV) a pedido do Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial (ETCO).

“Pelo ajuste que está sendo feito, muito provavelmente o que deve ocorrer nos dois próximos anos é um aumento da informalidade. Trata-se de um ajuste muito profundo que está ocorrendo na economia”, afirma Samuel Pessôa, pesquisador do Ibre/FGV e responsável pelo indicador.

 No último ano, a IES, que é termômetro da atividade econômica fora dos registros formais e que pretende captar, além da informalidade, a pirataria, a sonegação de impostos, entre outros expedientes, teve um recuo muito pequeno comparado a períodos anteriores.

Em 2003, quando o indicador começou a ser calculado, a informalidade respondia por 21% do PIB, cinco pontos porcentuais acima da participação registrada no ano passado. De lá para cá, houve quedas expressivas em praticamente em todos os anos, exceto em 2009. Naquele ano, por causa da crise financeira internacional, o indicador recuou 0,2 ponto porcentual. Foi a mesma retração registrada no ano passado. Essa quase estagnação na fatia da informalidade no PIB é um indício de que o processo de redução ocorrido nos últimos dez anos deve começar a ter uma reversão.

“A redução da economia subterrânea está se dando mais vagarosamente”, observa o presidente executivo do ETCO, Evandro Guimarães. Ele pondera que nenhum país deixa de ter uma parte da economia na informalidade. Mas ressalta que 16% é participação muito alta da economia informal no PIB e que há um grande espaço para a formalização. “Equivale ao PIB da Argentina”, compara.

Forças. Pessôa pondera que há hoje na economia duas forças atuando. Uma delas é um processo mais estrutural de formalização da economia, impulsionado pela melhoria institucional do País e por avanços na qualificação da mão de obra. A outra força, que age no sentido contrário, é o peso da conjuntura, marcada pelo forte ajuste na economia. “O que nós vamos observar é a resultante dessas duas forças. A minha impressão é que nos próximos anos o que vai prevalecer é a conjuntura.”

Segundo o pesquisador do Ibre/FGV, pelos dados mais recentes da Pesquisa Mensal do Emprego do IBGE, nota-se que a participação do trabalhador sem carteira de trabalho assinada parou de cair e já está subindo “um pouquinho”.

O ex-motorista particular Adilson Dantas, de 41 anos, é um dos trabalhadores que migraram para a economia informal. Desde que deixou o emprego com carteira assinada, em meados de 2014, ele não conseguiu se recolocar formalmente na economia. “A situação está difícil. Emprego aparece, mas para trabalhar seis dias por semana e ganhar R$ 900.” Como motorista, ele tirava R$ 1.400.

Cansado de enviar currículos, Dantas decidiu vender roupas. Comprou R$ 2 mil em malhas em Minas Gerais e tenta revender as peças na rua e pela internet. “Mas, por enquanto, o movimento está fraco”, conta.

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