Ministério autua Rio-2016 51 vezes por condições irregulares de trabalho

RIO — O Ministério do Trabalho autuou 51 vezes o comitê organizador do Rio-2016 por descumprimento da legislação trabalhista. Entre os 51 autos de infração, 12 dizem respeito a embaraço à fiscalização das condições dadas aos trabalhadores nas arenas olímpicas. Os outros 39 se referem a irregularidades no cumprimento de direitos a saúde e segurança do trabalhador.
Auditores fiscais foram impedidos de entrar em espaços onde ocorrem as competições e, por entender que a organização dos jogos atrapalhou determinadas inspeções, a Superintendência Regional do Trabalho e Emprego (SRTE) no Rio decidiu autuar o comitê, uma empresa privada responsável pela execução da Olimpíada.
Houve tanto impedimento à entrada dos auditores nas arenas quanto uma demora para liberar o acesso dos fiscais aos espaços, especialmente os bares e lanchonetes. Além disso, documentos deixaram de ser fornecidos. Isto pode ter impedido flagrantes de irregularidades nas condições de trabalho. Os responsáveis pelo Rio-2016 devem ir na próxima sexta-feira à SRT para receber as autuações.
RESPONSÁVEL PODE RECORRER
Uma autuação não significa necessariamente uma multa. A partir da notificação, a empresa pode recorrer, dar explicações e, com isso, evitar a punição em dinheiro.
Em 27 de julho, antes do início dos Jogos e depois da chegada das primeiras delegações ao Rio, o Ministério do Trabalho informou uma multa de R$ 315 mil ao comitê organizador em razão de carga horária exaustiva e falta de carteira assinada dos trabalhadores responsáveis por erguer a Vila dos Atletas.
Auditores fiscais analisam a responsabilidade do Rio-2016 em uma das irregularidades encontradas após o início dos Jogos, que é a falta de espaço adequado para os trabalhadores dos bares e lanchonetes fazerem suas refeições, além da ausência de fornecimento de alimentos saudáveis. Os fiscais querem saber de quem é a culpa pelos espaços inadequados.
Há dez dias, auditores da SRT no Rio fizeram uma inspeção nas arenas olímpicas, dentro de um cronograma de fiscalizações definido previamente. A ação contou com a participação do Ministério Público do Trabalho (MPT). O foco foram os bares e lanchonetes do Complexo Esportivo de Deodoro e do Parque Olímpico da Barra.
Ministério do Trabalho encontrou irregularidades na situação de funcionários que atuam nas lanchonetes da Arena Olímpica Rio - Marcelo Carnaval / Agência O Globo

A contratação considerada irregular de 6,5 mil trabalhadores que dão expediente nas arenas olímpicas -- apenas uma dentre diversas irregularidades encontradas -- deve gerar uma multa de R$ 6,5 milhões às empresas terceirizadas responsáveis. Os outros problemas enfrentados pelos trabalhadores, como falta de alimentação, de local para as refeições e o excesso de jornadas de trabalho, também devem resultar em autuações.
O modelo utilizado para a contratação dos trabalhadores foi considerado irregular. Os funcionários temporários foram contratados pela lei número 6.019, de 1974, que dispõe sobre trabalhos temporários em empresas urbanas. Conforme os auditores fiscais, os contratos deveriam ter seguido a CLT, que tem previsão de trabalho temporário. Isso garantiria benefícios como pagamento de PIS e indenizações.
A multa per capita, neste caso, é de R$ 1 mil ao empregado. Como são 6,5 mil em situação irregular, na visão da fiscalização, a autuação deve ser na casa de R$ 6,5 milhões.
Trabalham nos Jogos Olímpicos mais de 90 mil pessoas, sendo 85 mil terceirizados e 6 mil no comitê organizador, conforme números da organização. Outras empresas terceirizadas estão na mira da fiscalização por conta de indícios de irregularidades.
O Ministério do Trabalho divulgou uma nota após as inspeções de dez dias atrás e afirmou que "3,5 mil trabalhadores exerciam jornadas de trabalho sem controle efetivo de duração e recebiam alimentação inadequada, como sanduíches e salgadinhos". "Em algumas instalações, os trabalhadores atuavam sem assentos para descanso e em quiosques sem cobertura. Na hora do almoço, tinham que sentar no chão no horário das refeições", disse o Ministério.
As empresas terão de assinar um temo de ajustamento de conduta para evitar novas autuações. Entre as recomendações, estão garantia de acesso dos funcionários a refeitórios; disponibilidade de água em local de fácil acesso; fornecimento de alimentação saudável por duas vezes ao dia; e jornada de oito horas diárias de trabalho, acrescida de duas horas extras.
Sete equipes de auditores fiscais atuam nas instalações olímpicas. Depois dos problemas de infraestrutura nos primeiros dias de competição, com falta de comida e bebida, a organização dos Jogos promoveu um incremento da mão-de-obra nas arenas.
Os auditores detectaram uma melhora nas condições de trabalho no Complexo de Deodoro, depois da fiscalização, com alimentação adequada, lugar para sentar e o fim de jornadas excessivas para parte dos funcionários. Isso não invalida a aplicação das multas, segundo os auditores.
O Comitê Rio-2016, respondeu em nota. "O Rio-2016 tem colabora com o Ministério do Trabalho em seu processo de fiscalização durante os Jogos Olímpicos, os autos de infração foram recebidos e estão sob avaliação. Temos apresentado e continuaremos a apresentar as explicações e documentações pedidos dentro dos prazos. O Rio-2016 ressalta que deu acesso aos agentes sempre que solicitado. Como acontece com qualquer visitante, todos os funcionários de orgãos fiscalizadores, tem passado pelo procedimento padrão de segurança, que inclui credenciamento e checagem de acesso".
O Ministério do Trabalho, em nota, afirmou que os autos de infração não configuram multa. "Ao Comitê Rio-2016 é permitido um prazo de recurso referente a esses autos lavrados. As documentações continuarão a ser avaliadas após o término dos Jogos. O calendário de fiscalizações da SRTE/RJ ainda prevê novas ações", disse na nota.

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