Aposentadoria tranquila pode ir além da previdência privada


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Jovens e adultos empregados ou autônomos têm dificuldade de enfrentar a crise? Que dizer de quem já saiu da rotina de trabalho e, apesar da merecida aposentadoria, teve que amargar redução na renda mensal? Por mais difícil que seja dedicar tempo e dinheiro para um período que vai demorar 15, 20, 30 anos para chegar, começar a investir na aposentadoria em diversas frentes é a saída para não ficar à mercê das dificuldades econômicas durante a velhice. 

Daqui a duas décadas, o médico Paulo Saunders, 40 anos, quer poder usufruir de uma vida tranquila quando precisar reduzir o ritmo de trabalho. Por isso, criou uma carteira de investimentos (aplicações diversas) para onde destina 20% da sua renda mensalmente. Nela, entre outros destinos, estão previdência privada, ações e Notas do Tesouro Nacional série B (NTN-B) – títulos com rentabilidade vinculada ao IPCA, acrescidos de juros e que estão entre as principais recomendações de especialistas para quem quer aplicar a longo prazo. “Minha estratégia é montada no raciocínio de que só a previdência privada não vai proporcionar o padrão de vida necessário na aposentadoria”, comenta Saunders.

Para a economista Amanda Aires, essa postura deve ser iniciada assim que possível, desde o início da carreira. “Com a evolução da renda, é possível investir mais”, pontua. Foi o que aconteceu com Paulo Saunders, que antes dos 30 começou a guardar um percentual bem menor, em torno de 5%, pensando nesse futuro ainda distante. Amanda lembra que as diversas opções que o mercado oferece dão alternativas melhores do que as apostas que os aposentados de hoje fizeram no passado, como poupança e imóveis. Para ela, é preciso rever esses conceitos e procurar aplicações que rendam mais.


“É preciso buscar principalmente o que renda acima da inflação”, orienta. Ela lembra que independentemente da estratégia, é preciso priorizar a reserva para a aposentadoria. “Tem que se esforçar para manter a disciplina. Assim que entrar dinheiro, guarda o que tem que ir para esse investimento, mesmo que seja pouco no começo”, ensina, lembrando que isso deve ser feito mesmo quando a pessoa está guardando dinheiro para planos de prazo menor, como uma viagem ou a compra de um imóvel. 



Apesar de alertas como esse e do contínuo aumento da expectativa de vida – hoje em 74 anos no País, 22 a mais do que em 1980 –, o brasileiro parece ainda não ter atentado para a necessidade de poupar para a velhice. Segundo pesquisa da gestora de investimentos BlackRock com 27,5 mil pessoas de 20 países, incluindo o Brasil, por aqui se poupa o suficiente para um gasto anual de R$ 6.250, quando o mínimo deveria ser de R$ 67 mil. Outros dados (veja infográfico) mostram que há um certo arrependimento de não ter começado a poupar mais e ter gastado menos quando jovem. Para o diretor da BlackRock e responsável pela América Latina e Ibéria, Armando Senra, a pesquisa mostra que, apesar das “boas intenções”, os brasileiros estão atrasados em algumas áreas essenciais de planejamento. “Principalmente a aposentadoria”, reforça. 


PREVIDÊNCIA OFICIAL - A previdência oficial não é um investimento atraente. Entre as restrições, há o teto máximo de pouco mais de R$ 4.600, valor que é difícil de ser alcançado, devido ao cálculo das contribuições. Para se ter uma ideia, atualmente em Pernambuco somente 69 pessoas recebem esse valor, entre os mais de 1,4 milhão de aposentados, pensionistas e outros beneficiários do INSS no Estado. 


No entanto, a aplicação mensal na previdência oficial é necessária não apenas para ficar coberto por benefícios como auxílio-doença e auxílio- maternidade, mas também para reaver os aportes feitos compulsoriamente por empregados e empresas, uma vez que quem é contratado dentro da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) obrigatoriamente tem que contribuir, assim como seu empregador. 

Neste sistema, até um terço do valor da remuneração mensal (sendo até 12% descontados do salário e 20% bancados pela empresa) vão para a Previdência Social, arrecadados via Receita Federal. Como a Previdência funciona no “Regime de Solidariedade”, essa contribuição mantém os benefícios pagos hoje – com exceção dos aposentados por trabalho rural, cujos recursos vêm dos cofres do governo federal, porque eles não contribuem quando estão na ativa. Isso significa que, para cada aposentado que recebe salário do INSS, é preciso cerca de três contribuintes. Com a taxa de natalidade caindo e a de longevidade aumentando, essa é uma equação que vai dar trabalho para fechar no futuro.

No entanto, o superintendente regional do INSS, João Maria Lopes, garante que é um investimento seguro. Ele afirma que as dificuldades que o INSS tem em fechar as contas não estão nas aposentadorias do trabalhador urbano, cujas contribuições cobrem os benefícios pagos a quem já alcançou a idade, mas sim nas rurais. “Não há arrecadação suficiente para pagar esses benefícios, por isso o governo tira isso do seu orçamento.” Ele comenta que, chegando-se a uma situação grave ao ponto de não haver contribuintes o suficiente para pagar as aposentadorias dos trabalhadores urbanos, o governo criará uma receita. “Esse pagamento é garantido”, assegura.


Leandro Lima diz que vários fatores influem na escolha. Foto: Igo Bione/JC Imagem


MAIS OPÇÕES - As restrições da aposentadoria via INSS abrem um terreno fértil para o crescimento da previdência privada como complemento à oficial. Não por acaso, a modalidade atrai cada vez mais aportes no País. Mas ela também tem suas limitações, como taxas altas e índices de rendimento moderado. Por isso, especialistas em investimentos e finanças pessoais recomendam outras alternativas, como fez o médico Paulo Saunders, para garantir uma renda razoável nos anos da vida que requerem menos esforço laboral. 

O consultor Leandro de Lima, da Finacap, lembra que a análise deve levar em conta diversos parâmetros: a idade da pessoa, quando pensa em se aposentar, a incidência de Imposto de Renda de Pessoa Física, quanto quer ganhar, se quer gastar tudo só para si ou se quer deixar parte para os filhos e outros dependentes. Com a previdência privada, por exemplo, a questão da transferência é resolvida automaticamente, enquanto em outros investimentos será necessário todo um processo sucessório, que pode levar meses ou anos.

Entre as opções disponíveis no mercado, ele cita as NTN, debêntures, fundos imobiliários, cotas de fundos atreladas a bolsas internacionais, entre outros. “É importante reinvestir os ganhos nessas aplicações”, pontua. Ele lembra que o perfil do investidor também pesa na decisão, uma vez que quem quer acompanhar os investimentos mais de perto tem condições de ter rendimentos melhores. “Ser mais atuante na escolha desses ativos sem dúvida tem um peso maior quando se faz isso por conta própria”, comenta. 

Sócio-diretor da Geração Futuro, Eduardo Moreira acrescenta que a análise da rentabilidade deve levar em conta aplicações cuja rentabilidade superem a inflação oficial para manter o poder de compra. Outro ponto é a liquidez. Na visão dele, aportes que visam muitos anos à frente também devem considerar imprevistos e, por isso, dar margem para serem resgatados. “A volatilidade é grande e estamos sujeitos a crises. Por isso, eu invisto no longo prazo, mas preparado para grandes oportunidades que possam surgir no curto prazo”, conta Eduardo, que tem 39 anos e não aplica em previdência privada. 

Moreira lembra ainda que o volume dos investimentos devem ser crescentes, porém não é necessário ter um grande fluxo para começar. Segundo ele, há opções a partir de R$ 100 e de R$ 1 mil, que já configuram um ótimo começo, como NTNs. Para valores mais altos, ele inclui entre as alternativas os fundos de crédito privado, que basicamente emprestam dinheiro a empresas e, embora tenham juros menores, têm prazos mais longos, aumentando a segurança para rentabilidade por anos a fio.

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