Senhor, Doutor, Excelência - O pronome é tão importante assim?


SE A MODA PEGA  

Senhor, Doutor, Excelência - O pronome é tão importante assim?

"Que 'vocês' abençoem a tarde de Deus!"

52
Um dia desses li um texto aqui no JusBrasil que falava sobre o uso do "Doutor" em algumas profissões, especialmente as jurídicas, mesmo que esses profissionais não fossem "doutores", no sentido acadêmico, isto é, de terem feito doutorado, e, imediatamente, me veio a lembrança de uma situação interessante vivenciada por um jovem advogado durante uma sustentação oral no TST, a qual compartilharei com vocês.
Senhor Doutor Excelncia - O pronome to importante assim
Essa situação envolvia um processo trabalhista complexo, no qual eram reivindicados direitos trabalhistas decorrentes de uma demissão ilegal, em face de uma grande empresa.
Em primeira instância os direitos pleiteados foram reconhecidos, condenando a empresa ao pagamento dos valores pleiteados. Interposto recurso pela empresa, o TRT reformou a sentença. Desse acórdão, a reclamante interpôs recurso para o TST, objetivando a reforma do acórdão e confirmação da sentença de piso.
Pois bem, após toda a morosidade do Judiciário, o processo foi colocado em pauta de julgamento e o advogado do reclamante foi até Brasília fazer a sustentação oral.
É aqui que entra o assunto abordado no texto mencionado no início desse escrito.
O advogado, bom orador, fez uma belíssima sustentação, conseguindo abordar todos os pontos cruciais da demanda, demonstrando conhecimento da causa e capacidade de convencimento.
Todavia, após sua ótima explanação, esse advogado, na maior das boas intenções, virou para os Ministros e disse: "Que Deus abençoe a tarde de vocês! Obrigado".
Depois dessa frase sem graça, mal educada e de extremo mal gosto (pois onde já se viu chamar um Ministro de "você"), um desses "Ministros", imediatamente, demonstrou sua irritação com tamanho desrespeito por parte do advogado e, não satisfeito em aparentar seu descontentamento, pediu a palavra e disse para todos os presentes, em alto e bom som, que aquele local era a casa da Justiça e que todos aqueles que ali estavam ("Ministros", é claro") eram pessoas que devem ser respeitadas e que o tratamento dispensado a eles deve ser correspondente a importância da função exercida.
Ou seja, o Ministro pediu a palavra para, publicamente," dar uma lição "no advogado, pois se sentiu ofendido com um" você "ao final da sustentação oral.
Depois de lembrar desse fato, ainda durante a leitura do texto aqui no JusBrasil, fiquei pensando no quanto somos pequenos, por mais que exerçamos grandes profissões.
O" Doutor ", o" Excelência ", ou o" Senhor ", muitas vezes, vão além de pronomes de tratamento, virando parte da pessoa, de forma que, para essas pessoas, a não observância de tais formalidades é considerada uma ofensa profunda.
Como não lembrar, também, daquele caso em que um juiz entrou com uma ação na justiça contra o condomínio para que, dentre outras coisas, os funcionários fossem obrigados a lhe chamar de" doutor "ou" senhor ".
E o próprio advogado que coloca no seu cartão de visitas" Dr. Fulano de Tal "?!
Eu, na realidade, não tenho nada contra chamar alguém por" doutor ", em decorrência da sua profissão, até mesmo por se tratar de costume há muito utilizado. O problema mesmo é quando o alguém tem que ser chamado de" doutor ".
Inclusive, acho que o Ministro que se sentiu ofendido, por ter sido chamado de" você ", queria era que o advogado lhe dissesse:
" Que vocês abençoem a tarde de Deus! "

Comentários

Postagens mais visitadas