TST Anula Cláusula que Impedia Terceirização em Condomínios
A Seção Especializada em Dissídios 
Coletivos (SDC) do Tribunal Superior do Trabalho, por maioria, declarou a
 nulidade de cláusula constante de convenções coletivas de trabalho que 
proibiam condomínios residenciais
 do Estado do Tocantins de contratar prestadores de serviços para as 
funções de porteiro, faxineiro, zelador e vigia, entre outras. O 
entendimento prevalecente foi o de que a proibição atinge a livre 
iniciativa empresarial para a consecução de objetivo considerado regular
 e lícito.
A cláusula (abaixo transcrita) constava 
das convenções coletivas de trabalho firmadas em 2014 e 2015 entre o 
Sindicato das Empresas de Compra, Venda, Locação, Administração de 
Imóveis e condomínios Residenciais e Comerciais e o Sindicato dos Empregados em Edifícios e condomínios do Estado do Tocantins.
“CLÁUSULA QUADRAGÉSIMA QUARTA – DOS TERCEIRIZADOS
Nos 
termos do Enunciado nº 331 do TST, fica vedado novas contratações pelos 
condomínios abrangidos pela presente CCT, de trabalhadores através de 
empresas de prestação de serviços no fornecimento de mão-de-obra 
terceirizada para atuarem na sua ATIVIDADE-FIM a partir da vigência 
desta CCT.
PARÁGRAFO
 PRIMEIRO: Para efeito do disposto no ‘caput’, considera-se inserido na 
ATIVIDADE FIM dos condomínios as seguintes funções e atividades: 
Zelador, Vigia, Porteiro, Jardineiro, Faxineiro, Ascensorista, 
Garagista, Manobrista e Folguista;
PARÁGRAFO
 SEGUNDO: Os condomínios que tem empregados contratados na atividade fim
 contratados na modalidade de terceirização, não poderão renovar o 
referido contrato tendo como data limite até 31.03.2014, efetuando a 
partir desta data contratação direta pelo próprio condomínio.
PARÁGRAFO
 TERCEIRO: No caso do condomínio violar qualquer das disposições acima, 
arcarão com a multa mensal de 10% (dez por cento) por empregado cada 
empregado, calculada sobre o piso salarial, enquanto perdurar a 
ilegalidade, limitado na forma do art. 920 do Código Civil, hipótese em 
que ainda o condomínio assumirá a responsabilidade direta pelo registro 
na CTPS e todos os encargos trabalhistas e previdenciários desses trabalhadores, na qualidade de real empregador;
PARÁGRAFO
 QUARTO: Remanesce ao condomínio, a faculdade de contratar Empresas de 
Serviços para a sua ATIVIDADE MEIO, ou seja, em outras funções que não 
as mencionadas no § 1º, ficando neste caso o condomínio como responsável
 subsidiário pelas obrigações.
PARÁGRAFO
 QUINTO: os serviços de vigilância armada e serviços eventuais podem ser
 terceirizados, ficando neste caso o condomínio como responsável 
subsidiário pelas obrigações.”
Contra ela duas entidades de classe da 
categoria de asseio e conservação, que também abrangem terceirizados 
(Sindicato das Empresas de Asseio, Conservação e de Outros Serviços 
Similares Terceirizáveis do Estado do Tocantins – SEAC-TO e Sindicato 
dos Empregados de Empresas de Asseio e Conservação do Estado do 
Tocantins – SINTECAP), e dois condomínios (Residencial
 Águas do Tocantins e Residencial das Artes) ajuizaram ação anulatória 
sustentando, entre outros argumentos, que a vedação “acaba por esvaziar 
de vez o campo de atuação de tais empresas, fazendo com que diversas 
delas tenham inclusive que fechar suas portas em definitivo”, o que 
levaria à subtração de inúmeros postos de trabalho e prejudicaria 
diretamente os trabalhadores do setor.
A ação anulatória, no entanto, foi 
julgada improcedente pelo Tribunal Regional do Trabalho da 10ª Região 
(DF-TO), com fundamento na autonomia coletiva das partes.
No recurso ordinário ao TST, os 
sindicatos da área de conservação e limpeza sustentaram que a convenção,
 ao vedar a contratação de empresas de terceirização e determinar a 
rescisão dos contratos em curso, causou “prejuízos imensuráveis” para as
 prestadoras de serviços.
Argumentaram ainda que a Súmula 331 do 
TST não veda a terceirização de serviços de limpeza e conservação e que a
 cláusula violou direitos de terceiros, “extrapolando o princípio da 
autonomia privada da vontade coletiva”.
Livre iniciativa
No exame do recurso, a ministra Dora 
Maria da Costa, redatora do acórdão, afirmou que a cláusula que proíbe a
 terceirização de serviços nos condomínios limita o campo de atuação das
 empresas prestadoras de serviços de limpeza e conservação, “indo de 
encontro a um dos princípios constitucionais básicos da atividade 
econômica, que é o da livre concorrência, inserto no inciso IV do artigo
 170, o qual prevê a liberdade da iniciativa privada”.
Para a ministra, o princípio da livre 
iniciativa (artigo 1º, inciso IV, da Constituição da República) envolve 
não só o livre exercício de qualquer atividade econômica e a liberdade 
de trabalho, mas também a liberdade de contrato, decorrendo daí a 
vedação a qualquer restrição não prevista em lei.
“De um lado, as administrações dos 
condomínios devem ser livres para decidirem, elas próprias, qual a 
melhor forma de contratação dos serviços a serem prestados, seja a 
contratação direta ou a de empregados terceirizados.
De outro, as empresas prestadoras, cujo 
objeto social diz respeito à terceirização de serviços de conservação e 
limpeza, entre os quais podem ser incluídos os serviços de zelador, 
garagista, porteiro, faxineiro e outros, não podem sofrer limitações em 
seu campo de atuação, não se admitindo que um instrumento negocial 
invada a seara dos contratos que podem ser firmados entre elas e os 
condomínios residenciais”, assinalou.
Seu voto foi seguido pela maioria dos ministros que compõem a SDC.
Limites
O relator, ministro Mauricio Godinho 
Delgado, sustentou que a defesa da concorrência não deve ser 
concretizada em detrimento dos demais princípios gerais da atividade 
econômica elencados no artigo 170 da Constituição (livre iniciativa e 
valorização do trabalho humano).
No seu entendimento, há respaldo social, 
econômico e jurídico para que as partes coletivas disponham 
autonomamente sobre a forma de contratação no âmbito de sua base 
territorial de modo a restringir ou proibir a terceirização da mão de obra em determinada comunidade de trabalhadores.
Para o ministro, o princípio da autonomia
 privada coletiva, conjugado com os princípios constitucionais da 
valorização do trabalho, da justiça social, da centralidade do trabalho 
e, especialmente, do emprego, permite que o sindicato dos trabalhadores e
 o dos empregadores celebrem convenção coletiva que dê primazia à relação de emprego diretamente contratada, em detrimento da contratação por intermédio de terceirização.
“Sendo, ademais, objetivo do Direito do 
Trabalho elevar as condições de contratação trabalhista na economia e na
 sociedade, a cláusula se mostra mais benéfica aos trabalhadores, 
atendendo também o princípio da norma mais favorável, incorporado 
pelo caput do artigo 7º da Constituição”, concluiu.
Seguiram seu voto pelo não provimento do 
recurso os ministros Kátia Magalhães Arruda, Maria de Assis Calsing e 
Fernando Eizo Ono (aposentado).
Não participaram da votação os ministros 
Brito Pereira, presidente do Tribunal, e Renato de Lacerda Paiva, 
vice-presidente, tendo em vista que os dirigentes anteriores, ministros 
Ives Gandra Martins Filho e Emmanoel Pereira, já haviam 
votado. Processo: RO-121-39.2014.5.10.0000.
Fonte: TST – 17.04.2018 – Adaptado pelo Guia Trabalhista.

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