SINOPSE DAS PRINCIPAIS ALTERAÇÕES DA REFORMA TRABALHISTA

Sergio Ferreira Pantaleão
Lei 13.467/2017, publicada em 14/07/2017, altera mais de uma centena de pontos da CLT e traz várias mudanças que afetarão o dia a dia entre empregado e empregador, outras que abrangem as relações sindicais, bem como outras que envolvem questões judiciais decorrentes de reclamatórias trabalhistas.
A referida lei entrará em vigor após decorridos 120 dias de sua publicação ou seja, a partir de 11.11.2017. Até lá, tanto os novos contratos de trabalho quanto os já existentes, permanecem valendo pelas regras atuais.
Caso seja do interesse do empregador ou empregado que o contrato de trabalho atual seja regido pelas alterações impostas pela reforma trabalhista, será necessário repactuar um novo contrato de trabalho (aditivo contratual), após a entrada em vigor da nova lei.
Nada impede que o empregador faça o aditivo de imediato, com previsão de validade a partir de 11.11.2017. Entretanto, havendo alguma alteração na lei de Reforma Trabalhista ou caso haja publicação de Medida Provisória que altere as novas regras antes de sua entrada em vigor, o aditivo já feito poderá necessitar de adequações de acordo com as mudanças.
Destacamos abaixo um quadro comparativo das principais regras atuais e as novas regras decorrentes das mudanças estabelecidas pela nova lei, que entrará em vigor a partir de novembro/2017:
TEMA TRABALHISTA SITUAÇÃO ATUAL (REGRAS ATUAIS) MUDANÇAS COM A LEI 13.467/2017 (NOVAS REGRAS)
Banco de Horas
  • Período de 1 ano para compensação;
  • As horas de banco não sofrem acréscimo;
  • Podem haver períodos e situações diferentes de compensação em convenção coletiva;
  • Base legal: Lei 9.601/1998;
  • Poderá ser pactuado por acordo individual escrito, desde que a compensação ocorra no período máximo de 6 meses;
Contribuição Sindical
  • É obrigatório o desconto equivalente a 1 dia do salário do empregado no mês de março de cada ano;
  • Base legal: art. 580 e 582 da CLT;
  • A contribuição sindical passa a ser opcional, ou seja, só haverá o desconto de 1 dia de salário se o próprio empregado autorizar;
Convenções e Acordo Coletivos
  • Acordos coletivos são válidos, desde que não contrários à lei e se trouxer vantagens ao empregado;
  • Base legal: art. 7º, XXVI da CF; art. 611 a 625 da CLT;
  • A convenção coletiva e o acordo coletivo de trabalho têm prevalência sobre a lei quando, entre outros, se tratar de:
1. Pacto quanto à jornada de trabalho, observados os limites constitucionais; 2. Banco de horas; 3. intervalo intrajornada, respeitado o limite mínimo de 30 minutos para jornadas superiores a 6 horas; 
4. adesão ao PSE; 
5. plano de cargos, salários e funções compatíveis com a condição pessoal do empregado, bem como identificação dos cargos que se enquadram como funções de confiança; 
6. regulamento empresarial; 
7. representante dos trabalhadores no local de trabalho;
8. teletrabalho, regime de sobreaviso e trabalho intermitente;
  • Serão consideradas Ilícitas nas convenções e acordos coletivos a supressão ou a redução dos seguintes direitos:
1. normas de identificação profissional, inclusive as anotações na CTPS;
2. seguro-desemprego, em caso de desemprego involuntário;
3. valor dos depósitos mensais e da indenização rescisória do FGTS;
4. salário-mínimo;
5. valor nominal do 13º salário;
6. remuneração do trabalho noturno superior à do diurno;
7. - proteção do salário na forma da lei, constituindo crime sua retenção dolosa;
8. salário-família;
9. repouso semanal remunerado;
10. remuneração do serviço extraordinário superior, no mínimo, em 50% à do normal; 
11. número de dias de férias devidas ao empregado; 
12. gozo de férias anuais remuneradas com, pelo menos, um 1/3 a mais do que o salário normal; 13. licença-maternidade com a duração mínima de 120 dias; 
14. licença-paternidade nos termos fixados em lei; 
15. proteção do mercado de trabalho da mulher, mediante incentivos específicos, nos termos da lei; 
16. aviso-prévio proporcional ao tempo de serviço, sendo, no mínimo, de 30 dias, nos termos da lei; 
17. normas de saúde, higiene e segurança do trabalho previstas em lei ou em normas regulamentadoras do Ministério do Trabalho; 
18.adicional de remuneração para as atividades penosas, insalubres ou perigosas; 19. aposentadoria; 
20. seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do empregador;  
21. ação, quanto aos créditos resultantes das relações de trabalho, com prazo prescricional de 5 anos para os trabalhadores urbanos e rurais, até o limite de 2 anos após a extinção do contrato de trabalho;  
22. proibição de qualquer discriminação no tocante a salário e critérios de admissão do trabalhador com deficiência; 
23. proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a menores de 18 anos e de qualquer trabalho a menores de 16 anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de 14 anos;  
24. medidas de proteção legal de crianças e adolescentes;  
25. igualdade de direitos entre o trabalhador com vínculo empregatício permanente e o trabalhador avulso; 
26. liberdade de associação profissional ou sindical do trabalhador, inclusive o direito de não sofrer, sem sua expressa e prévia anuência, qualquer cobrança ou desconto salarial estabelecidos em convenção coletiva ou acordo coletivo de trabalho;  
27. direito de greve, competindo aos trabalhadores decidir sobre a oportunidade de exercê-lo e sobre os interesses que devam por meio dele defender; 
28. definição legal sobre os serviços ou atividades essenciais e disposições legais sobre o atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade em caso de greve; 
29. tributos e outros créditos de terceiros; 30. as disposições previstas nos arts. 373-A, 390, 392, 392A, 394, 394-A, 395, 396 e 400 da CLT;
Danos Morais
  • O valor é atribuído de acordo com o convencimento do juíz;
  • Base legal: art. 186 e 927 do Código Civil;
  • Casos leves – Teto de até 3 vezes o valor do último salário;
  • Casos graves – Teto de até 50 vezes o valor do último salário;
  • Este teto vale também caso o empregador seja o ofendido;
  • Havendo reincidência das partes, o valor poderá ser dobrado;
Demissão sem justa Causa (acordo entre as partes)
  • O empregado tem direito ao pagamento da multa de 40% do saldo do FGTS e ao saque de 100% do FGTS depositado;
  • Se pedir demissão, não tem direito a sacar o FGTS;
  • A empresa deve conceder um aviso prévio de, no mínimo, 30 dias;
  • O empregado recebe o seguro desemprego;
  • Base legal: §1º art. 18 da Lei 8.036/90; art. 487 da CLT; art. 7º, XXI da CF; Inciso I da Lei 7.998/90;
  • A demissão poderá ocorrer de comum acordo;
  • O pagamento da multa de 40% será pela metade, ou seja, 20% do saldo do FGTS;
  • O empregado só poderá sacar 80% do FGTS depositado;
  • A empresa deve conceder um aviso prévio de, no mínimo, 15 dias;
  • O empregado não recebe o seguro desemprego;
Falta de Registro do Empregado
  • Multa de ½ salário mínimo por empregado;
  • Base legal: art. 41, § único e art. 47, § único da CLT;
  • ME e EPP – Multa de R$ 800,00 por empregado não registrado;
  • Demais empresas – Multa de R$ 3 mil por empregado não registrado e de R$ 6 mil em caso de reincidência;
  • Multa de R$600,00 por empregado, quando não forem informados os dados necessários para o seu registro;
Férias
  • As férias podem ser divididas em até 3 períodos, não podendo ser inferior a 5 dias corridos e um deles deve ser de, no mínimo, 14 dias corridos;
Gravidez / Insalubridade
  • A empregada gestante não pode trabalhar em condições insalubres;
  • Base legal: art. 394-A da CLT;
  • A empregada deverá ser afastada, sem prejuízo da remuneração a que percebia:
a) Das atividades consideradas insalubres em grau máximo, enquanto durar a gestação; b) Das atividades consideradas insalubres em grau médio ou mínimo, quando apresentar atestado de saúde, emitido por médico de confiança da mulher, que recomende o afastamento durante a gestação; c) Das atividades consideradas insalubres em qualquer grau, quando apresentar atestado de saúde, emitido por médico de confiança da mulher, que recomende o afastamento durante a lactação;
  • Se não for possível que a empregada gestante (considerando as condições acime mencionadas) exerça suas atividades em local salubre na empresa, será considerada gravidez de risco e terá direito ao salário maternidade durante todo o período de afastamento;
Home Office (Trabalho em Casa)
  • Não há previsão legal;
  • Há previsão contratual do home office (trabalho em casa);
  • Todas as atividades a serem desenvolvidas pelo empregado deverão constar no contrato, bem como os custos com equipamentos, controle de produtividade e demais pontos inerentes ao contrato;
  • O trabalho é realizado fora da empresa, com a utilização de tecnologias de informação e de comunicação que, por sua natureza, não se constituam como trabalho externo;
  • O home office pode ser convertido em trabalho presencial (na empresa) por determinação do empregador, garantido prazo de transição mínimo de 15 dias, formalizado por aditivo contratual;
  • Cabe ao empregador instruir o empregado sobre a saúde e segurança do trabalho;
Horas Extras
  • 20% Superior a hora normal (§ 1º do art. 59 da CLT - não aplicado);
  • 50% superior ao da hora normal (art. 7, XVI da CF – aplicado)
  • Base legal: art. 7, XVI da CF;
  • A remuneração será, pelo menos, 50% superior à da hora normal;
Intervalo Intrajornada
  • Jornada acima de 6 horas o período de descanso (intervalo intrajornada) é de, no mínimo, uma hora;
  • Se não concedido o descanso, a empresa pode ser condenada a pagar a hora cheia como extra, e não apenas o período suprimido para descanso;
  • Base legal: art. 71 da CLTSúmula 437 do TST;
  • Jornada acima de 6 horas o período de descanso (intervalo intrajornada) é de, no mínimo, 30 minutos, desde que negociado entre empregado e empregador;
  • Se não for concedido o descanso, a empresa pode ser condenada a pagar apenas o tempo suprimido (diferença entre o tempo concedido e o tempo efetivo de descanso), calculados com acréscimo de 50% sobre o valor da hora normal.
Intervalo para amamentar o filho
  • 2 descansos de meia hora cada um durante a jornada de trabalho;
  • Base legal: art. 396 da CLT;
  • Os 2 períodos de descanso previsto no art. 396 da CLT deverão ser definidos em acordo individual entre a mulher e o empregador;
Jornada de Trabalho 12 x 36
  • Previsão mediante convenção coletiva;
  • 12 horas diárias ou 48 horas semanais;
  • A cada 12 horas trabalhadas deve haver 36 horas de descanso;
  • Pode ser pactuado mediante acordo individual ou coletivo;
Multas Administrativas
  • Os valores das multas expressos em moeda serão reajustados anualmente pela Taxa Referencial (TR), divulgada pelo Banco Central do Brasil, ou pelo índice que vier a substituí-lo;
Prêmio
  • O pagamento de prêmio, gratificações, dentre outros pagos pela empresa integram a remuneração para todos os efeitos legais;
  • Base legal: art. 458 da CLT;
  • Os prêmios serão considerados à parte do salário, não se incorporam ao Contrato de Trabalho e não constituem base de incidência de qualquer encargo trabalhista e previdenciário;
Prorrogações de jornada em locais insalubres
  • Somente é permitido mediante licença das autoridades competentes em matéria de segurança e medicina do trabalho;
  • Base legal: Portaria MTE 702/2015.;
  • Exigência de licença-prévia para prorrogações de horários em atividades insalubres, não sendo exigida para as jornadas de 12 X 36;
Quarentena
  • Não há previsão;
  • Se o empregado é demitido, ele só poderá ser recontratado depois de 3 meses (90 dias), sob pena de o contrato ser unificado.
  • Base legal: Portaria MTB 384/1992,
  • Se for demitido o empregado não poderá ser recontratado durante 18 meses, nem mesmo como terceirizado;
Reclamatória Trabalhista
  • Não há custo para o empregado que entra com a reclamatória;
  • Não há pagamento de honorários de sucumbência se o empregado perder a reclamatória;
  • Base legal: art. 791 da CLT; Súmula 219 e 329 do TST
  • Se o empregado assinar a rescisão, não poderá questioná-la judicialmente;
  • A parte que perder terá que arcar com as custas da ação;
  • Comprovado a má-fé da parte, é prevista a punição de 1% a 10% sobre o valor da causa, além de pagar indenização para a parte contrária;
  • Se comprovada a incapacidade de arcar com as custas, a obrigação fica suspensa por até dois anos a contar da condenação;
Trabalhador Autônomo
  • Não é considerado empregado, desde que atendidos os requisitos legais;
  • Base legal: art. 11, V da Lei 8.213/91;
  • A contratação do autônomo afasta a qualidade de empregado prevista na CLT, desde que cumpridas por este todas as formalidades legais, ainda que a contratação seja com ou sem exclusividade, de forma contínua ou não;
Trabalho em Tempo Parcial
  • Jornada de até 25 horas semanais;
  • Não pode haver horas extras;
  • Salário proporcional à jornada trabalhada;
  • Não pode converter 1/3 das férias em abono;
  • Base Legal: Art. 58-A§ 4º do art. 59 e art. 143, § 3º da CLT;
  • Jornada semanal de até 30 horas semanais, sem possibilidade de fazer horas extras;
  • ·Jornada semanal de 26 horas semanais, com possibilidade de fazer até 6 horas extras, com acréscimo de 50% sobre o valor da hora normal;
  • Salário proporcional à jornada trabalhada;
Trabalho Intermitente
  • Não há previsão;
  • O empregado poderá ser contratado (por escrito) para trabalhar por períodos (de forma não contínua), recebendo pelas horas, dias ou mês trabalhados, sendo-lhe assegurado o pagamento de férias, 13º salário e previdência social ao final de cada período de prestação de serviços;
  • O empregador deve avisar 3 dias antes a data de início e o valor da remuneração a ser paga (nunca inferior ao salário mínimo ou inferior ao salário dos demais empregados da empresa que exercem a mesma função em contrato intermitente ou não), e o empregado terá 1 dia útil para dar ou não o aceite, sendo considerado recusado o silêncio do empregado;
  • Caso o contrato não seja cumprido por uma das partes, quem descumpriu terá que pagar 50% do valor da remuneração combinada para o período contratual;
  • O período de inatividade não se considera como tempo de serviço à disposição do empregador;
  • A contribuição previdenciária e o FGTS deverão ser recolhidos mensalmente pela empresa nos termos da lei;
  • Assim como para os demais empregados, a cada 12 meses trabalhados o empregado tem direito de usufruir, nos 12 meses subsequentes, um mês de férias, período no qual não poderá ser convocado para prestar serviços pelo mesmo empregador;
Transporte (residência-trabalho) (trabalho-residência)
  • Se o local é de difícil acesso o tempo gasto para deslocamento é considerado como tempo de serviço e computado na jornada de trabalho;
  • Base legal: §2º do art. 58 da CLT;
  • Em qualquer situação o tempo gasto não será considerado como tempo de serviço e não será computado na jornada de trabalho;
Uniforme e Higienização
  • Não há previsão legal;
  • O empregador poderá definir o padrão de vestimenta a ser utilizado pelo empregado;
  • É licita a inclusão de logomarcas da empresa e de terceiros (empresas parceiras) e/ou outros itens relacionados à atividade da empresa no uniforme;
  • A higienização do uniforme é de responsabilidade do empregado, salvo se a empresa exigir que sejam utilizados produtos específicos para a limpeza;
Sergio Ferreira Pantaleão é Advogado, Administrador, responsável técnico pelo Guia Trabalhista Mapa Jurídico e autor de obras na área trabalhista e Previdenciária.
Atualizado em 17/07/2017.

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