Desemprego bate à porta

Benjamin Steinbruch
Folhapress/Arquivo/JC
Benjamin Steinbruch é diretor-presidente da CSN
Qualquer que seja o escolhido nas próximas eleições presidenciais, a verdade é que o Brasil precisa estar preparado para participar do novo ciclo de crescimento mundial que já está começando - todas as previsões de analistas indicam que esse ciclo, puxado principalmente pelos EUA, será longo, embora com crescimento médio mais moderado.

O Brasil pode entrar no barco dessa nova expansão global e, para isso precisa, basicamente, ser mais competitivo. Isso vale para todos os setores, mas para a indústria, sem nenhuma dúvida, competitividade é a palavra-chave nesse contexto.

Tentarei ser bastante objetivo a respeito desse tema, cujo estudo tem sido aprofundado pela Fiesp, por meio de seu Departamento de Competitividade e Tecnologia. Perder competitividade significa, grosso modo, ficar fora de mercado por condições contrárias adversas locais.

Ao investigar as origens dessas desvantagens, aparecem de forma límpida dois problemas básicos: o elevado custo Brasil e a valorização do real.

Estudo da Fiesp, feito com base em dados do ano passado, concluiu que o custo Brasil gera um acréscimo de 23,4% nos preços dos produtos da indústria de transformação quando comparados com os similares de seus principais parceiros comerciais.

O item mais importante do custo Brasil é a tributação, incluindo-se aí a carga burocrática. O trabalho da Fiesp mostra que a indústria brasileira pagava no ano passado, em média, nesse item, 14% a mais que seus parceiros comerciais.

Sobre a burocracia, um exemplo diz tudo: o tempo que uma empresa brasileira gasta para preparar, registrar e pagar impostos é de 2,6 mil horas de trabalho por ano, em comparação com 249 horas de seus parceiros.

Outro item importante do custo Brasil advém do crédito caro. Só os gastos com capital de giro representam um acréscimo superior a 4% em comparação com os dos principais parceiros comerciais do País.

Os juros internos exorbitantes desestimulam os investimentos. Outro estudo da Fiesp mostrou que os empresários que investiram em sua indústria entre 2008 e 2012 tiveram um retorno médio de 47%. Mas os que deixaram de investir e aplicaram os recursos no mercado financeiro, em um fundo de renda fixa, por exemplo, obtiveram retorno de 62% no mesmo período.

Apesar da queda do custo da energia e das matérias-primas em 2012 e 2013, esses itens ainda representavam, no ano passado, um acréscimo de 3% nos preços dos produtos industriais em relação aos dos parceiros.

Outros fatores, como os custos de serviço e de infraestrutura logística, também competem para encarecer o Brasil.

Além do custo Brasil, porém, a valorização do real é um fator importante para reduzir a competitividade brasileira. Ninguém duvida: o real precisa ser desvalorizado em relação ao dólar. Isso provocará inflação? Sim, alguma inflação, embora a experiência mostre que esse impacto não é tão grande quanto se propala. Mas a valorização do real, recentemente um pouco atenuada, não pode continuar.

A valorização cambial proporciona alguma redução nos preços de máquinas e equipamentos importados, o que diminui os custos de modernização e ampliação dos parques produtivos. O impacto do câmbio nos preços de produtos importados, porém, tira completamente a condição de competir de milhares de itens fabricados no País.

As alíquotas de impostos de importação são insuficientes para eliminar a desvantagem brasileira. Elas representam, em média, 10,2% para os países parceiros, bem abaixo da alíquota máxima de 35% negociada com a OMC (Organização Mundial do Comércio).

Para entrar no barco do crescimento mundial, o Brasil precisa corrigir rapidamente esses problemas que o tiram da competição nos mercados globais: reduzir impostos e burocracia; cortar taxas de juros e aumentar o crédito; cuidar da infraestrutura logística; e ajustar rapidamente a taxa de câmbio.

Dificilmente alguém que se debruce sobre esses problemas chegará a conclusão diferente. É o que precisa ser feito com urgência, não por meio de medidas isoladas, e sim como política sistemática, porque a ameaça do desemprego já bate à porta.

Diretor-presidente da CSN, presidente do conselho de administração da empresa e primeiro-vice-presidente da Fiesp

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